SEXUALIDADE


A sexualidade humana é uma característica essencial dos seres humanos composta de vários aspectos, podendo ser definida como um conjunto de fenômenos da vida sexual que proporciona uma série de excitações em todo corpo de uma pessoa; seja ele homem ou mulher. É na adolescência que o ponto crítico da sexualidade surge com maior intensidade, levando o menino ou a menina se ligar na genitalidade.
Com o amadurecimento biológico é que os processos identificatórios da infância e adolescência são postos em questão. Pois que até então parecia fixado numa identidade que leva o sujeito a sentir-se menino ou menina, requer uma outra significação. A sexualidade infantil é fragmentada e desviada em direção a objetos singulares e múltiplos, tais como a boca, a região anal, genital, etc.
Com o início da puberdade, o desenvolvimento da sexualidade começa a tomar sua forma adulta sob a égide da zona genital. Nesta fase, ocorre a descarga dos produtos sexuais, subordinando a sexualidade à função reprodutora. Na "tempestade da puberdade", período de profundas transformações corporais e de intensos e desenfreados desejos sexuais, a satisfação por meio da descarga caracterizada pelo orgasmo, única capaz de proporcionar uma satisfação final ou “prazer final” pode se dar, entretanto, através de prazeres preliminares, ou seja, prazeres nos quais as zonas genitais não assumiram ainda seu papel preponderante. Assim sendo, a genitalidade torna-se apenas um dos inúmeros caminhos humanos possíveis de satisfação sexual.
A sexualidade durante a vida de qualquer ser humano passa por várias formas. Ela reside no homem não como uma forma primordial de reprodução e sim como satisfação de desejo, passando pela homossexualidade que é um desejo persistente por pessoas do mesmo sexo, na maioria das vezes impossível de ser impedido.
A orientação sexual de uma pessoa é um processo ainda não muito conhecido pela ciência. Vários estudos já foram realizados com o objetivo de se estabelecer uma causa para suas origens, sem que nenhum deles tenha conseguido seu intento. Hipóteses foram levantadas, mas não comprovadas. Algumas teorias, entre elas a psicanalítica, a genética, a endócrina e a teoria do aprendizado social, já contribuíram de modo enriquecedor para o entendimento da homossexualidade, sem terem esgotado o tema. Ainda restam, talvez, irredutivelmente, zonas obscuras a serem desvendadas. Parece que os fatores envolvidos na origem da sexualidade são variados, biológicos, psíquicos, sociais, etc. Tanto os homossexuais quanto os heterossexuais constituem um grupo heterogêneo, sem um padrão uniforme de personalidade, aparência física ou comportamento que o distinga do grupo. Os homossexuais existem em todas as classes sociais e em todas as culturas.
Hoje uma pessoa homoafetiva poderá não apresentar para seu meio social nenhum indicador de sua orientação sexual, mesmo que a exerça em sua prática sexual, portanto não apresentando nenhuma manifestação quanto à identidade de gênero ou papel sexual que sejam diferentes das manifestações aceitas para o seu sexo biológico. Outras vezes esse campo se confunde e o sujeito poderá dar-se conta de sua orientação sexual e, no entanto, manter a prática sexual e o comportamento sexual ligado a outra orientação, heterossexual. Esse tipo de atitude, via de regra, levará esse sujeito a grande fragmentação e vivência de intenso sofrimento. A trajetória até aí não é das mais simples e diz respeito àquilo que é denominado de homofobia internalizada.
Aos olhos humanos, o que é ser homem ou ser mulher é variável conforme a sociedade e o período histórico em que se vive. Determinadas literaturas elaboram diversas visões a respeito da composição da sexualidade. Segundo Weeks, a sexualidade nunca é fixa ou estável. O que se pensa sobre sexo em nossa sociedade pode inexistir em outras culturas. Portanto, não há uma explicação única aceita pela ciência para a origem da orientação sexual. Porém, podemos entender, através de uma análise histórica e antropológica, as razões que levaram a homossexualidade terem sido consideradas uma doença e o porquê do preconceito contra os homossexuais existente em nossa sociedade.
No começo da era cristã, considerou-se inicialmente que Adão e Eva perderam o paraíso porque se relacionaram sexualmente. Já no século IV, Santo Agostinho, numa nova leitura da Bíblia Sagrada, interpretou que a perda do paraíso deveu-se não à atividade sexual em si, mas sim ao prazer do ato, à concupiscência da carne. Ou seja, a finalidade do sexo não seria o prazer e sim a procriação (Ariès, 1995). Para muitas religiões esta leitura permanece até os dias de hoje, sendo que algumas delas são contrárias a qualquer método anticonceptivo ou a qualquer prática sexual que não vise à reprodução, estando aí incluída a homossexualidade.

Antigamente a mulher era definida do ponto de vista sexual como um homem invertido. Ela possuía todos os órgãos sexuais do homem, só que internamente. Essa concepção científica foi dominante até o século XVIII. A distinção entre homens e mulheres não se referia à diferença dos sexos e sim à posição social. A mulher era um homem invertido e inferior, porque tinha corpo e cérebro anatomicamente menores, daí ser menos capaz e menos inteligente, e seu corpo ter como função principal a procriação.

Um dos principais causadores da repressão à atividade sexual, foi o desenvolvimento do sistema capitalista que reprimia a sexualidade por ela ser incompatível com o trabalho. Para eles isso atrapalhava a exploração de mão de obra, uma vez que os indivíduos se perdiam em prazeres que não aqueles que permitissem a procriação.
Algumas estatísticas mostram que cerca de 10% da população é constituída por indivíduos homossexuais e que 37% dos homens já experimentaram orgasmo com outros homens. Como se pode ver não são dados alarmantes para uma sociedade que se diz hetero fique incentivando a homofobia, pois ainda somos a minoria.
Atualmente a pratica homossexual entre adolescente é bem menor do que há anos atrás. Apesar de que é nela que passamos ter um objeto sexual, pois estamos nos descobrindo, experimentando o que é ser homem ou ser mulher. São meninas que convivem com suas amigas intimamente, trocando confidencias, carinhos e os meninos buscando parceiros para brincadeira (“troca-troca”) e vivências. É uma fase de experimentação sexual que contribui na construção da identidade sexual futura.
É uma fase muito difícil, pois nos sentimos diferentes, sem saber o porquê. E o desejo homossexual vai acontecendo progressivamente. Em alguns casos o desejo se dá desde a infância. Alguns rapazes descobrem inclinação homossexual no inicio da adolescência, onde começam a ter fantasias homoeróticas, levando-os a ter experiências sexuais. A partir daí eles podem assumir a sua homossexualidade no inicio da vida adulta ou esconde-la. O intervalo de tempo entre descobrir-se homossexual e revelar-se pode ser longo. Alguns adolescentes tende a se manifestar quando já se considera independente e sente-se mais seguro em relação à sua orientação sexual. Alguns não se revelam nunca.
O adolescente dificilmente irá assumir a sua homossexualidade, devido à discriminação e à rejeição existente na sociedade. Devido a isto, muitos homossexuais não se expõem e se isolam, pois não tem coragem de contar nem de compartilhar com alguém este sofrimento, tentando se defender da homofobia presente na sociedade. A homofobia, definida por atitudes irracionais contra homossexuais, é responsável por altos índices de violência contra estes.
Uma pessoa que rejeita a si mesmo, menos saberá lidar com ela, podendo fazer desse outro um objeto de ódio, de agressões e até de assassinato. O desejo pelo outro, ao ser recusado, pode se transformar em ódio. Da homofobia ao homoterrorismo é um passo.
É importante lembrar que não há inscrição da diferença sexual no inconsciente, cada pessoa construirá uma sexualidade – homo, hetero ou bi – absolutamente legítimo. Pois não cabe a ninguém autorizar a sexualidade de ninguém. Não existe Lei que possa transforma o desejo sexual de uma pessoa.

Todo ser humano está sob a égide do prazer, seja ele de natureza psíquica ou social. É o desejo que vai qualificar esta ou aquela atividade erótica, independentemente do sexo do parceiro. No sexo o que interessa é a satisfação da zona erógena (a boca, os genitais, mamilos, etc.). Segundo a psicanálise, o parceiro do sexo é um objeto que, “na cama”, o sujeito recorta o corpo do outro. E isso independe do gênero dos parceiros sexuais. A energia sexual é sempre parcial. E o coito genital não é absolutamente uma exigência da sexualidade nem da suposta “maturidade” da energia sexual; e muito menos uma norma. Não se pode educar a energia sexual. Não se pode desviá-la para acomodá-la aos ideais da sociedade. A energia segue os caminhos traçados pelo inconsciente, que é individual e singular.
É extremamente complexo definir o que é masculino ou feminino, pois todo ser humano apresenta uma mistura de caracteres biológicos, psíquicos, masculinos e femininos. Muitos deles não manifestam trejeitos caricatos do sexo oposto ao seu. , o que lhes permite manter sua orientação sexual velada. Alguns heterossexuais relatam que tiveram atração sexual por pessoas do mesmo sexo em alguma época da vida, mas não se tornaram homossexuais.
Vale a pena lembrar que a homossexualidade, tanto do ponto de vista psicanalítico, psicológico como médico, não constitui uma doença, distúrbio nem perversão. Cabendo lembrar que o prazer não se inscreve apenas numa referencia biológica, sujeitando-se inteiramente às complicações do psiquismo, é necessário que toda pessoa se aproxime o máximo possível de seu desejo, seja ele qual for, inclusive um desejo homossexual.
Nunca esqueça que a orientação sexual envolve muito mais que desejos sexuais: envolve identidade, afeto, sentimentos e emoções.
Jorge Garcia
Psicanalista

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